quarta-feira, março 28, 2007

(umbra)

que esta voz possa brilhar:
temor suave
ou relógio que marca intensidade
fonética
de um quase agudo
beijo?

segunda-feira, março 26, 2007

e agora sentir
como se mordesse húmus
negro
(imaginária réstea de
esperança.
pausa no vento
que deseja
outro sinal)
e agora sentir
o mundo
húmus
negro.
a causa do silêncio
a estrutura da distância
melodia do isolamento
beleza em código:
imaginar a água,
a nuvem
- o processo

quinta-feira, março 22, 2007

respiração da terra:
o silêncio.
a dor de brotar da terra:
partenogénese do poema.

nasce então a flor
da meticulosa
dúvida.

:início de um interlúdio)

segunda-feira, março 12, 2007

O problema de ser quem sou ou ser o outro
que me habita
aconchegou-se nestas horas depuradas
em mim. Nasceu
de mim. Eu sou

o outro.
O meu destino é este:
não ter destino.

Os deuses, quando me criaram,
esqueceram-se de mim.

Estou, portanto, livre para gerar todas as palavras
moldá-las com a sapiente dor da terra
aspergi-las com a água
da vida
e com o fogo
dos deuses.

Assim seja feita a minha vontade.
Sou o habitante:
dentro das quatro paredes côncavas,
caverna das ideias.

Sou o habitante:
de mim perfeito habitante,

perfeito habitante de mim.

quarta-feira, março 07, 2007

Sabendo bem que aqui não entra a luz
(essa luz)
eu cego-me
eu digo-me que não tenho olhos
que não tenho olhos para ver
a luz
(essa luz).

Sou o habitante da mais alta profundeza:
cego
mas vejo

mas vejo o que não se vê
na luz
(nessa luz).

segunda-feira, março 05, 2007

E neste oceano de palavras
eu sou o habitante da mais alta profundeza.

Eu não tenho olhos: eu pressinto
aquilo que persiste
e que persistirá
neste oceano negro. Aqui.

Aqui não chega nunca a luz
desse falso conceito
ao qual lá fora chamam
A Razão.