segunda-feira, fevereiro 26, 2007

De todas as palavras que nunca disse
a mais secreta é a que nunca direi:
essa palavra negra
negra como a esperança
de poder um dia exercer o livre arbítrio
de desesperar
em mim no meu tempo e no meu
parêntesis de espaço.

Essa é, pois, a mais negra
das palavras:
das minhas
secretas palavras.

sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Até mesmo os pequenos estados de alma
são imensos. E porquê?
Porque a alma, mesmo a mais pequena alma
é sempre um conceito tão imenso
que nem mesmo eu, pescador de estados de alma,
alguma noite o conseguirei definir
ou explicar(-mo).

Desta asserção também se deduz
que a balança do esquecimento não é
(não pode ser)
um mecanismo simples.

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

No Hades por habitar também existe um Letes
rio do esquecimento por inventar.
E é esse rio que corta o fio.

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

O mais pequeno estado de alma
e o mais pequeno grão de areia
podem ambos ser pesados
na mesma balança
do esquecimento.
Se posso descer ao poço
Porque não me inicio?
Tenho medo. Ou não posso.
Não quero romper o fio.

(Affonso Gallo não escreveria uma coisa destas.
Logicamente, eu não sou Affonso Gallo.)
Estou portanto à espera
de alguma coisa
pela qual valha a pena esperar
(que versos tão prosaicos!):
é esta a minha natureza.
Mas eu não sou natural.
Eu detesto a natureza
tal como a natureza a mim me detesta.
Eu sou prosaico.

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Eu não sou o tempo
mas tenho dentro de mim o tempo.
O tempo é a minha duração
o meu parêntesis
e começa quando eu começo
e acaba quando eu acabo.
Também existe a eternidade
mas essa já não me diz respeito:
só o tempo me é real.